31 de jul. de 2012

.:Graça na Praça com livros e sinestesias:.

Sábado foi dia de GRAÇA NA PRAÇA. 



E lá estávamos eu e Juliene (A colecionadora de momentos) colocando livros em lugares estratégicos - bancos, árvores, canteiros, para o primeiro ávido leitor que passasse. 
Nestas nossas pernadas BH afora, conhecemos pessoas incríveis que não tem condição de ter um livros. E nós, com tantos livros guardados, resolvemos que não deixaremos para as traças. 

Um dos livros, Venenos de Deus, Remédios do Diabo, foi deixado pela Ju em uma árvore. Quando deixamos outro livro em um banco, olhamos para trás e nos deparamos com um leitor encontrando o livro. Saímos de fininho. Não gostamos de nos apresentar. O livro é um presente, nao precisa vir com furupas. 

O Graça na Praça estava a todo vapor. Nos sentamos na grama e começamos a escrever nos nossos braços e mãos:

A COLECIONADORA DE MOMENTOS

 
FLOR INSANA
                                        

Qual não foi nossa surpresa quando, o leitor que encontrou o livro de Mia Couto, sentou ao nosso lado e perguntou:

- Vocês que deixaram este livro aí?

- Sim, fomos nós...

Então, num ato brutal, ele começou a rasgar o livro, acendeu um isqueiro e começou a queimá-lo!

- Vocês são do diabo. Não gosto dessas coisas não.

Juliene foi a primeira a questionar:

- Por que você está fazendo isso? Se não gostou do livro, deixe ele no lugar que encontrou, e procure outro pra você. Tem vários pela praça.

- Eu não, estou com medo de vocês.

A Juliene conseguiu salvar o livro (ou o que restou dele), e deu outro de presente ao leitor. 
Mas aquela história estava longe de terminar. Ele ficou sem graça, sentou e começou a conversar calmamente...

Seu nome é Oscar. 
Oscar veio do interior de Minas a procura de emprego. Não encontrando, morou na praça por muitos meses. Faz vários serviços: pregar cortinas, lavar carros, pintar paredes. Não rouba, fuma e bebe socialmente, segundo ele. 
Hoje, com os poucos trocados que ganha, paga um quartinho no apartamento de um amigo. Adotou um cachorro de rua, o "Demorando", que mora na praça, mas é diariamente alimentado por Oscar, que sai de porta em porta pedindo ração, coleira, vasilha com água. E assim, transformou o "Demorando" no querido da praça. 

                                           A COLECIONADORA DE MOMENTOS e DEMORANDO


Oscar é um exímio leitor. Lê de tudo. Mas como a grana é curta, tem que ler os jornais baratos. Mas não gosta, ele diz. Prefere os livros e jornais grandes. E aquele livro era seu primeiro. Gostou. Saiu pela praça procurando por mais. Acreditamos que tenha encontrado.

Oscar nos marcou. Pela vontade imensa de ler. De viver. De ser. 

Fato curioso: Seus amigos se aproximaram e ele comentou a sua estripolia com o livro. Eles começaram a rir e disseram: Não se julga um livro pela capa!

Taí... Gostei!!

                                                  Oscar e seu novo livro "Histórias Mineiras"

                                           Oscar Leitor



                                           Faça como a gente! Deixe um livro na praça!!!!


24 de jul. de 2012

" Criativa diferença"

Meu mais novo texto no portal Ágora.

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22 de jul. de 2012

"Interno"









Fico um tanto animalizada

                                       quando convivo excessivamente com humanos.... 
18 de jul. de 2012

"prelúdio"

            
Sou inconstante nas minhas sinas. Mexo e desdobro em mil partes este origami sem fim. Encontro apenas os limites físicos que me impedem sair e alcançar algo longínquo.
            Tento, de todas as maneiras, fugir para alguma esbórnia que aceite o sono profundo, pelo menos por alguns dias. A distância entre dois pontos está maior que meus olhos possam enxergar.
            Nesta infinitude, me encontro perdida nos emaranhados empapelados e encrustados na pele. Sigo para qualquer caminho que me abra uma porta e veja pelo menos que encolhi.
            Corro atrás dos horizontes pueris que vageiam na minha memória e teimam em não desaparecer.  Lembranças desastradas, sujas e enferrujadas.
            Essa existência incomodativa cansa. A sequencia de erros matemáticos mostram o quão estranha está toda essa história. Tento encontrar atrás dos quadros e dos rostos algo que justifique meu pensar.
Tento, nas palavras tristes, encontrar um fundamento que justifique essa errância... Se ela era, desencanto terrivelmente da realidade e parto, nas minhas inconstâncias, para caminho diverso, antes habitado somente no inconsciente.
Parto rumo ao meu nada, aos meus vazios, aos meus buracos internos que precisam ser preenchidos por qualquer letra que apareça. Foi necessário lamber todas as feridas para encontrar meus humanos obstáculos.
Tal qual olho pela janela e sinto um novo dia, olho para o nada e vejo infinito. Tão inconstante como meus emaranhados, tão sutil como as sinestesias, tão forte quanto a vontade de mudar...
17 de jul. de 2012

"menina"



aquela menina é infinita.
sabe jogar estrelas e atravessar o mar.
corre pelos cascalhos descalça
e conversa com o luar.

aquela menina é faceira.
dorme com os pés descobertos,
toma banho de chuva
e atravessa todos os desertos.

aquela menina é sonhadora.
Sonha com jacaré, peixe e foca.
Pinta sonhos com os pés
e transforma tudo que toca.

aquela menina é feliz.
É sapeca, custosa e dengosa.
leva a todos um brilho no olhar
e as palavras da sua boca viram prosa.

Aquela menina
tão sutil e tão atenta
chora, sorria e pensa
mas quando se sente triste
procura o vento que a acalenta.

Aquela menina é toda infinito
Toda prosa, toda rosa.
Toda riso, toda pranto.
Toda face, todo canto.
Aquela menina tão forte
é rocha, é pedra.
mas é tão menina
que sua vida é etecétera...

"sustenido"



Eu tenho medo
Dessa fome que me rasga
Dessa pedra
Que me abala
Desse forte
Que me vê.
Eu tenho força
Pra cair no seu retrato
Pra criar o seu cenário
E dentro dele me render.
Eu tenho chama
Pra cuidar dos seus anseios
Pra curtir os seus apegos
Pra poder me desprender.
Eu tenho sorte
De estar bem na lembrança
De sentir feito criança
De poder me entender.
Eu tenho gana
Se pedir todo abraço
De dar causa ao teu amasso
De poder surpreender.
Eu tenho dores
De sentir todos tremores
De causar os desamores
e depois agradecer.
E no final
Naquele choro sustentado
Naquele caos abarrotado
eu vou nele apodrecer.
E assim
Quando chegar o infinito
Vou dar cordas nos ouvidos
Pular nos seus abismos
E dentro dele preencher...

OHLEMREV

 
 
Vermelho
do verme
do elho do olho
do melho, do molho
do mel, do velho

do pelo, do vê-lo, do tê-lo
do mel, tão véu

merve, olhe
ver melhor
melhor ver

vermelho intenso
vermelho forte
vermelho

verme vermelho
velho vermelho
véu vermelho

vermelho solitário.