29 de jan. de 2012

.:POR UM FIO:.

MIMULUS CONSEGUE COLOCAR A ALMA DE UM ARTISTA POBRE, NEGRO E LOUCO NO PALCO


ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO passou a maior parte da sua vida em um manicômio. Dos visitantes que por lá iam, ganhava material como linhas, fitas, madeira. E com todos os presentes, criava, recriava e vageava com obras e frases consideradas "loucas". Como a maioria dos artistas brasileiros, foi considerado gênio somente depois de morto. Sua obra está em museus pelo mundo, e, agora, se eternizou no espetáculo POR UM FIO, realizado pela MIMULUS CIA DE DANÇA.
Não é fácil estudar sua obra. Arthur criou o MANTO DA APRESENTAÇÃO, feito para fazer sua passagem quando chegasse o "juízo final", e nele, bordava tudo que criava. Enfim, é uma obra belíssima, considerada sua "obra prima":

                                                       manto da apresentação

Em um cenário sombrio, os bailarinos usam o corpo e o rosto num jogo de luz e sombra. Abusam das feições apáticas e loucas. Se mostram esquizofrênicos a maior parte do tempo, recriando a obra de Bispo com muitas maestria. Se entrelaçam em cordas e corpos, criando emaranhados e oferecem à platéia frases soltas do grande artista. Ainda, mostram ironia ao tentarem se soltar, se desagarrar, assim como  Bispo, que tentava fugir da realidade que o rodeava.
Com uma trilha sonora que mescla músicas densas e sambas suaves, os bailarinos nos convidam a entrar no mundo da loucura e da genialidade. É uma saudação a um gêniou LOUCO, NEGRO E POBRE, um artista marginal que viveu longe da elite e da vida considerada comum.
O bailarino Rodrigo dá um show ao dançar sem olhar nos olhos de seu par (convenhamos, quando na dança de salão prevalece o olho no olho, dançar olhando para o nada é um tremendo desafio).
No meio de todo o entrelace, luzes penduradas mesclam no palco dança como se todos estivessem dentro do Manto bordando a obra de Bispo.
O convite à obra torna-se um desafio para quem não conhece Bispo, ou seja, mais de 80% da platéia, o que pode tornar o espetáculo confuso.
O espetáculo deve falar por si mesmo, é fato. Mas se a Companhia distribuísse folhetos explicando quem foi Bispo, tornaria o espetáculo mais compreensível, além de fazer o artista ser mais conhecido e admirado. Até porque entrar no MANTO não é tarefa fácil. Mas quando consegue-se ultrapassar linhas e laços, torna-se uma experiências enriquecedora.

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO vive dentro do espetáculo. LOUCO E, ACIMA DE TUDO, LIVRE!

Conheça um pouco mais de sua obra AQUI!!!!!

                                            MIMULUS CIA DE DANÇA

POR UM FIO pertence à campanha de Popularização do Teatro e da Dança e saiu de cartaz hoje, dia 29. Fica a expectativa para que a Companhia se apresente mais uma vez!!!
28 de jan. de 2012

.:DEUSES:.

UMA VIAGEM NO TEMPO DA IRONIA COM EXCESSO DE INTELIGÊNCIA E DINÂMICA



Deuses é um espetáculo literalmente dos DEUSES... Mas antes de começar a ler minha crítica, é bom ligar o som e clicar neste link aqui:

HAVA NAGILA

Bom, agora, ouvindo a música que dá cor ao espetáculo, vamos lá:

Como surgiu o mundo? Qual o conceito correto? O Big Bang, que não passa de um peidinho inaugural, ou a criação divina com Adão e Eva? Seja como for, a criação das idéias sempre se deu pela transgressão, pela busca incessante do novo. E assim, com a evolução terrestre e a divisão da Pangéia, as primeiras formas de vida foram surgindo e junto com elas, o ser humano.Ou quando Eva mordeu a maçã e se descobriu humana.
E assim, com o passar do tempo, o ser humano descobre a arte... O teatro! Teatros gregos com platéia para até 15 mil pessoas, onde os atores são abençoados por DIONÍSIO. A arte da descoberta, a explosão de sinestesias.
E hoje? O que é o teatro hoje? Temos TEATRO? A arte ainda vive sob os olhares atentos de DIONÍSIO?
Ou ele simplesmente virou as costas com a baderna atual, onde 80% da "arte" agrega uma massa alienada que ri de qualquer besteira?
Seja como for, DEUSES propõe um diálogo e um questionamento constante com a platéia.
Ederson Cleyton é ator, diretor e roteirista do espetáculo. Inspirado no teatro essencial, onde há apenas uma cadeira em cena. O ator mergulha no personagem numa criação criativa e de muita entrega.  No palco, referências a Charles Chaplin e Denise Stoklos.
Com muita ironia, Ederson faz um trabalho que reúne o Antigo Testamento, a História, a Geografia, a Química, a Física e a Filosofia. Faz perguntas e sempre termina suas frases com "será"?
Com muita humildade, Ederson não afirma. Somente coloca perguntas. Aceita a participação da platéia. Ator e público de confundem num espetáculo inteligente, irônico e dinâmico.
E ao, fim, a platéia pode se deliciar com um verdadeiro "caga na cueca, gorfa na cueca...". Sim, para o público assíduo das artes, é clara a ironia. O TEATRO AINDA EXISTE? A ARTE AINDA É ARTE? CAGAR NA CUECA É MAIS INTERESSANTE QUE UMA PEÇA INTELIGENTE? SERÁ? SERÁ SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ? SERÁ?

São 60 excelentes minutos.

Eu, esta que vos escreve, com o grande ator, diretor e roteirista do espetáculo, que se transformou em anjinho barroco para tirar essa foto!

DEUSES estará em cartaz até amanhã (DOMINGO) na UNA (Rua Aimorés). Ingressos a venda nos Postos Sinparc.
22 de jan. de 2012

.:DOLORES:.

O UNIVERSO DE ALMODOVAR EM ESPETÁCULO MADURO E INOVADOR

DOLORES consta na bagagem da Mimulus Companhia de Dança há anos. Já tem "estrada". E sempre que se apresenta em BH, garante casa cheia.



Inspirado nos filmes de Pedro Almodovar, o palco é tomado por cores fortes e bailarinos bem caricaturados. Atemporal, é possível encontrar referências a várias obras, como Má educação, Carne trêmula, Tudo sobre minha mãe, Mulheres à beira de um ataque de nervos, Volver, Ata-me. Inclusive, é possível "encontrar" A PELE QUE HABITO, filme mais recente do diretor, e que não existia à época da criação do espetáculo. Ou seja: o trabalho dos bailarinos parece ser uma continuação da obra do diretor espanhol.
DOLORES convida a platéia a entrar em um mundo de luxúria, intrigas, amores, brigas...
Elaborado através da criação coletiva, não é monótono. E os personagens, caricaturados, caem como uma luva, em especial para Jomar Mesquita, diretor do espetáculo e bailarino em cena. Seu modo de dançar, bem eloquente, é inconfundível.
A bailarina Nayane Diniz dá um show à parte. Considerada o maior destaque do espetáculo, faz juz ao papel e executa com maestria as coreografias. A queridinha da platéia dança como uma pluma e mostra que sim, consegue executar passos com muita técnica e feições dignas das loucas personagens do direitor espanhol.
Porém, a mistura em cena de bailarinos experientes com bailarinos novos causou um certo desconforto. O bailarino Bruno Ferreira, que saiu há pouco tempo da companhia, fez falta. Será difícil encontrar um profissional com sua bagagem. As coreografias são bastante exigentes para iniciantes. É preciso um certo domínio corporal misturado à capacidade de interpretação. Quando colocado tudo isso no bolo e ainda rechear com Almodovar, fica complicado para quem não tem a alma anternativa e tampouco trabalho rígido com o corpo. ALMODOVAR NÃO DE CONFUNDE COM AMADORES!!!
Enfim, saudades à parte, valeu a pena cada segundo. DOLORES é uma mistura sinestésica de cores, luzes, gritos, mãos, pés e corpos que nos deixam pregados na cadeira e com vontade de apertar o "REPEAT". É uma pena... não é cinema!!!
Mas como o grande Rosa ensinou: "a única coisa que não tiram da gente é a lembrança e a saudade". Fica então a expectativa para que a Companhia apresente DOLORES mais uma vez!! Y otra vez... Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....Y otra vez....

 DOLORES pertence à Campanha de Popularização do Teatro e da Dança e foi apresentado em 2 horários no dia 22/01. Infelizmente, não está mais em cartaz... 


Mas, uma boa notícia!!! dias 28 e 29 de janeiro será possível ver a Companhia dar mais um "show" com o espetáculo POR UM FIO, no grande teatro do Palácio das Artes. Ingresso a R$ 12,00, vendidos nos Postos Sinparc.

.:TERRITÓRIO NU:.

SINGULAR, MÁRIO NASCIMENTO SURPREENDE MAIS UMA VEZ.


Assistir Mário Nascimento não é tarefa fácil. Seu trabalho é denso. Sua montagem é seu reflexo, seu estilo, inconfundível e admirável. TERRITÓRIO NU é prova isso.
Para início de conversa, tem-se uma surpresa: o próprio Mário está no palco. O cenário: vazio. A iluminação: inteligente. As músicas, fortes mesmo quando lentas, mostram uma força enorme que se une aos corpos, provocando um ritual altamente sinestésico.
Mário mostra que sim, sua cria tem pedigree.Coreografias de alto impacto interpretadas por quem sabe o que faz. Um trabalho que prova que o corpo não possui limites. Fragilidades quebradas. Provocações. O espaço urbano questionado e vencido pelo humano, que não consegue se perder.
A urbanidade, presente nas músicas, coreografias e figurinos mostram um espetáculo nada convencional e singular, onde o limite é colocado à prova: o limite do vazio, do corpo, da queda, do barulho, da inquietude, do silêncio, do sussurro.
A presença de Mário em cena é curta, discreta. E por vezes ele se mostra “guardião” de seus pupilos. E há que se convir que estrear um espetáculo de dança não é tarefa fácil. Principalmente para os bailarinos, que vão amadurecendo com o correr das apresentações, mudando uma coisinha aqui, outra ali. Alguns erros podem acontecer. Mas neste espetáculo, são imperceptíveis, confundidos com a contemporaneidade do ato. 
TERRITÓRIO NU pode ser transformado em poesia. E deixa a platéia com um gostinho de "quero mais"!


TERRITÓRIO NU é integrante do VERÃO ARTE CONTEMPORÂNEA (VAC) e ficará em cartaz até dia 22/01, às 19 horas no teatro OI FUTURO. (Avenida Afonso Pena - prédio da OI). Ingressos a R$ 14,00 inteira, vendidos uma hora antes do espetáculo.
19 de jan. de 2012

.:IT:.

O UNIVERSO DE CLARICE COM MUITA SIMPLICIDADE


IT definitivamente não é uma peça convencional. Tampouco deve ser assistida uma única vez. Funciona como ler uma obra de Clarice Lispector: é preciso ler, reler, grifar os melhores trechos...
A peça é assim: precisa ser digerida. As atrizes, modestas, questionam com simplicidade e intensidade. Somente se percebe a intensidade com a força da palavra. Não a forma como ela é dita, mas o significado que ela tem.
A direção de Marina Viana é peculiar, mas nada clichê. É feminina, vanguardista. As frases usadas não são soltas. Não são ditas em vão.
Mas é preciso conhecer a cereja do bolo de Clarice para entender a peça. Metáforas são utilizadas, trechos são interpelados ao público como questionamentos. Ou seja: é uma peça para pensar.
Porém, contudo, entretanto, todavia, a estrutura do anfiteatro do Pátio Savassi é precária, para não dizer horrível. E os funcionários das lojas ao lado, nada compreensivos. Não desligaram o som tunzt tunzt das portas. Não falaram baixo. E algumas crianças passaram correndo, e chegaram a bater na porta do teatro (cadê as mães desses pequenos projetos?). O som vazado dá entrada a buzinas, risadas e muita  baboseira. Ou seja: peça boa, teatro ruim.
Ah, tudo bem. Compensa começar com Clarice e terminar com um lindo poema de Ferreira Guillar.
Quando você for, moça branca, como a neve, me leve!

IT pertence à Campanha de Popularização do Teatro e ficará em cartaz até dia 1 de fevereiro - segunda a quarta, sempre às 20:30. Ingressos a venda nos Postos Sinparc.

.:O AMOR NO GRANDE SERTÃO:.

 O DIABO NA RUA E FORA DO REDEMOINHO

Guimarães Rosa é meu escritor favorito. GRANDE SERTÃO:VEREDAS é um livro denso, difícil de ser absorvido...
Fazer uma peça sobre a estória de Riobaldo é algo extremamente complicado. Primeiro: é impossível contar tudo em apenas 50 ou 60 minutos. Segundo: o linguajar usado pelo Guimarães é de uma complexidade tamanha que, narrando, fica complicado. E terceiro: Recriar o ambiente imenso carece de ter qualquer criatividade...
E "O AMOR NO GRANDE SERTÃO" passa por todos estes problemas. Em cena, somente o "Riobaldo", narrando toda sua travessia, assim como no livro. Não fosse um detalhe: ele narra TUDO, todos os acontecimentos, deumaformalinearemuitorápida. Difícil, não? Muito, muitíssimo... Quem não conhece o grande Rosa, ficará perdido na narração. Quem conhece, fica nervoso. O público pensa que está ouvindo um audiobook de um resumo para vestibular.
Não há iluminação adequada, posição em cena, nada.
Algo de bom? O ator adquire o vocabulário Roseano e não se perde na dicção. Mas se perde nas palavras. Muitas ficam soltas, decoradas, mecânicas.
Uma cena? A última, quando ele narra a morte de Diadorim. Pena que a mocinha que trabalha no som começou a falar como se estivesse numa festa e acabou atrapalhando ator e platéia.
Recriar a obra do Rosa é tarefa difícil. E em apenas uma hora, é preciso escolher os melhores trecho e aprofundar. Não ser um mero clichê sem graça, frio e sem vida.

O AMOR NO GRANDE SERTÃO percence à Campanha de Popularização do Teatro e da Dança e fica em cartaz até dia 15 de fevereiro - terça e quarta, sempre às 19h, no Espaço Imaculada. Ingressos a venda nos Postos Sinparc.
14 de jan. de 2012

.:AQUELES DOIS:.

NUM DESERTO DE ALMAS TAMBÉM DESERTAS UMA ALMA ESPECIAL RECONHECE, DE IMEDIATO, A OUTRA.
E essa densa frase resume a peça, baseada num conto de Caio Fernando Abreu (que, por sinal, um escritor fantástico).
Direção impecável e uma entrega imensa dos atores. Não cabe aqui contar a história: ela é cheia de surpresas e te prende de uma tal forma que não se percebe o tempo passar.
O que mais me impressionou foi a naturalidade com que os atores interagem com o público. Até mesmo no final, eles permanecem no palco para receber cumprimentos e receber opiniões.
Atores assim estão em extinção. Assim como diretores. Conheço artistas incríveis mas não aceitam receber nenhuma crítica. Ou seja: ficam retidos numa redoma que quebra com facilidade.
Com Luna Lunera não. Você entra na história e mergulha no deserto de almas até encontrar uma amizade sincera, capaz de mudar todo o correr de uma vida. E depois, pode dar sua opinião de forma aberta, e, caso diga que não gostou, eles entendem e pedem ainda pra escrever num papel. Quem sabe aquilo realmente preciso de uma reforma? Afinal, ator também erra. E como eles reconhecem isso, se tornam monstros no palco, capazes de enfrentar os textos mais pesados. E como tem os ouvidos abertos, se reciclam, se renovam, e sempre se superam.
E como Guimarães Rosa já dizia que O CORRER DA VIDA EMBRULHA TUDO, vale a pena assistir a peça, se emocionar, se entregar, e, até mesmo, se identificar!
Fica a dica!!!

AQUELES DOIS pertence à Campanha de Popularização do Teatro e fica em cartas entre os dias 07/01 a 29/01 - quinta a domingo sempre às 20:00h no Sesc Palladium (espaço multiuso). Ingressos R$ 8,00 nos Postos Sinparc.

13 de jan. de 2012

.:O LUSTRE:. emaranhado de sentimentos

Loucura. Essa é a primeira sensação ao assistirmos O LUSTRE. O cenário, numa cor branca desbotada, dá a impressão de sujeira, abandono. Os atores, com roupas íntimas também do mesmo tom, que somente é quebrado pela lingerie vermelha da atriz. Alguns objetos pretos em cena e uma mala.
O cenário, seria um hospício? Não... aliás, não se sabe o que é interessante tentar desvendar o local.
Em poucos minutos, os atores transformam aquele ambiente frio em um local borbulhante. Frases bem feitas e bem construídas, retratando a vida de um homem e uma mulher. Ou de uma loucura sociologicamente construída.
A interpretação fica por conta do público. São namorados? Casados? Amigos? Desconhecidos? Ou somente loucos? Somente... seria realmente errado colocar esta palavra aqui. Pois SOMENTE a loucura foi capaz de transformar a peça numa inteligente risada.
No decorrer, os atores interagem com o público e provocam questionamentos, como, por exemplo, quando a atriz se aproxima das pessoas, se senta ao lado delas e pergunta por que elas ficam sem graça, afinal, ela que está seminua. Sim, há uma provocação de "valores criados" pelo senso comum, pela televisão e pelo besteirol.
Não tem como não rir. E também é impossível sair sem questionar. Realmente somos loucos? Realmente somos fruto do que pensamos, sentimos, dizemos?
A sociedade é um lustre preste a cair, tamanha quantidade de cocozinhos de mosquitos que vão se acumulando. Quanto mais, maior o risco. E o que são esses cocozinhos? Nossa hipocrisia? Nossa cegueira diante da vida que se abre à nossa frente? 

Será que queremos acumular cocozinhos, aumentando o risco de cairmos no vazio? É bom pensar E é bom rir pensando...

O LUSTRE estará em cartaz na FUNARTE até o dia 22 de janeiro (sexta a domingo às 20h)
ingressos a venda nos postos SINPARC (R$ 5,00)

12 de jan. de 2012

.:RESPEITÁVEL PÚBLICO:.

Seria o público mesmo respeitado? Será que muitos artistas se respeitam? Será que eu estou errada? Já começo indagando porque, às vezes, me sinto um peixe completamente fora d'água, nas areias do Saara.
Enfim, começou a Campanha de Popularização do Teatro. O que tem de bom nisso? TUDO! E de ruim? Tudo também. Explico: 70% das peças são do mais profundo besteirol que, espremendo, não sai sequer uma frase relevante. O público simplesmente gosta disso.
Mas e eu que não gosto? Sim, detesto besteirol. E odeio qualquer peça que me faça sentir uma idiota. Não estou afim de rir do ridículo. Nem gosto quando colocam a imagem do homossexual como uma figura esteroptipada. E odeio quando tem peça de "mineiros", o tempo inteiro falando "uai, sô", "nóis pode". Dá vontade de sair gritando com os atores, o diretor, a produção: "galera, quer falar do interior de Minas? Vá ler Guimarães Rosa!"
É... mas o povo ainda quer o ridículo. Nas filas imensas dos postos Sinparc, essas peças esgotam numa facilidade absurda. Enquanto as peças mais "cabeça", sobram lugares.  Das melhores peças, algumas ainda conseguem lotar os teatros, como Galpão, Mimulus, Armatrux. Mas ainda está longe de comemorar.
Ontem mesmo, na fila, consegui convencer um casal a comprar ingresso para a peça AQUELES DOIS E eles ainda me disseram que NUNCA pensavam em ir nessa peça, e, segundo eles: "A GENTE GOSTA DE RIR". Eu revidei: "JÁ PENSOU EM COMEÇAR A PENSAR?". SIM, eles compraram.E eu saí feliz com a minha boa ação.


Hoje aconteceu a mesma coisa. A mocinha na minha frente, super simpática e com uma enorme vocação para ser inteligente. Estava procurando uma peça bacana que a faça pensar e rir. Ah, claro, a convenci comprar ingressos para ELIZABETH ESTÁ ATRASADA. Tomara que ela goste.
Mesmo salvando 3 pessoas, ainda faltam muitas para serem resgatadas desse universo.
Mas... por que eu tô escrevendo isso? Hoje, voltando do trabalho, liguei na rádio Guarani e ouvi uma nova música da Marisa Monte. Me emocionei com a letra. Adoro tudo que ela canta, tenho todos os cd's. E aí comecei a pensar nos meus ídolos.
Quando era criança, meus pais compraram um som com cd (na época, um luxo), e de cara, compraram um cd da Marisa Monte. Eu devorei com os ouvidos aquelas músicas, como que num ritual antropofágico. Cada letra me inspirava... "FARINHAR BEM, DERRAMAR A CANÇÃO, REVIRAR TRENS, LOUCO MOVER PAIXÃO". E acreditem: eu tinha apenas 8 anos.
E a partir daí, meu gosto musical passou por Chico Buarque, Roberta Sá, Milton Nascimento, Abba, e até Spice Girls.
Ano passado me dei de presente um ingresso para o show do Chico Buarque. Ver ele no palco me causou uma emoção sem tamanho. Eu pensava: "sou fã das letras dele. O pai dele é um dos maiores sociólogos brasileiros, e escreveu um dos meus livros favoritos. Eu estou de frente com ele... Oh, emoção sem tamanho!"
O meu ídolo o é porque existe uma história que nos rodeia. Assim como Marisa Monte, que fará show em BH em 2012 (e eu, claro, vouuuu).
E agora? Será que toda pessoa possui uma história com seu ídolo? Ou repete "ai se eu te pego" porque é fácil, e correr atrás do Michel Teló é mais confortável? Sei lá. A culpa pode ser minha. De ser tão mesquinha e não conseguir escutar axé por mais de 20 segundos.
Eu devo ser bastante ridícula por isso. E devo ser também porque quero comemorar meu aniversário assistindo uma peça. Até chamei algumas amigas pra ir comigo, mas elas responderam que preferem sair pra beber. Ok, mas o aniversário é meu, ok? Comemoro aonde quero, e eu vou ao teatro.
É, realmente, a culpa é minha. E a Clarice na minha cabeceira me confirma tudo isso.
Ainda bem que os melhores amigos tem os mesmos gostos que eu. Ou não seriam amigos, certo?

Agora, para deixar minha cabeça mais "borbulhante", estou indo assistir O LUSTRE. Alguém anima???