21 de nov. de 2012

TRAVESSIA....



- Qualquer estagiário faz o seu trabalho! Sua mão de obra é muito cara pra mim.

Assim terminou um diálogo. Aliás, um monólogo de um chefe megalomaníaco e, como dizem os mineiros: "uma verdadeira carne de pesçoco".

Saí de lá com um nó na garganta. Então, se é assim, por que me colocaste neste cargo? Comecei a entender que ele não me queria ali.
E EU? EU queria estar ali? Não, não queria. Mas era o trabalho que tinha. Sair dali e fazer o que? Aonde? Encontrar outro lugar que poderia ser ainda pior? Não gostava do ofício. E aquela era a terceira opção em 2 anos. Não queria passar por mais uma experiência intragável...

A avenida era comprida, poderia andar com um fone nos ouvidos. Lenine, este som. Ótimo. Fez um barulho dentro de mim. Andei até chegar no museu. Sentei em um banco debaixo das árvores. Acompanhei o sol se por na mais completa calmaria. Calmaria. Essa palavra me persegue. Procuro por ela. Mas cadê?
O vento de final início de outono esfria minha nuca. Eu estava viva!

Mas então, por que aturar tamanha humilhação? Se não gostava, não era melhor uma demissão? Mas não... Eu percebi que o Sr. Ruanda gostava de pisar no calo das pessoas. Já presenciei seu comportamento sádico com outros profissionais. O problema do "carne de pescoço" era dele, não meu.

Eu também estava errada por estar ali. Aliás, pior lugar que já estive. Sentia-me sufocada todo o tempo.
Um almofadinha que sentava ao meu lado fazia as vezes de chefe quando o "carne" não estava por perto. Cheio de tiques e casos misterioros, dava chiliques no corredor quando brigava com a pessoa amada.
Uma outra, coitada, com ares de rapunzel, que chegava à casa dos 40 sem nenhuma vaidade e pior, com a língua maior que os cabelos. Sabia da vida de todos. E o pior: sabia o pior da vida de todos.
Quando eu dizia que ia ao teatro, ganhava apelido de bizarra, estranha.

Repensava debaixo daquelas árvores. O vento na nuca estava bom. Levantei e fui pra casa. Senti, pela primeira vez, calmaria. A decisão estava tomada.

No dia seguinte, passei pela avenida pela última vez. Subi o elevador já sentindo o ar pesado.
Entrei, passei pela recepção e entrei na sala do "carne". Não, ele não estava. Somente seu sócio. Despedi-me agradecendo, e evitei maiores comentários sobre o fatídico monólogo. Ele não tinha culpa daquilo. E té hoje acho que ele é a única pessoa capaz de aguentar o Sr. Ruanda.
Ganhei um tapinha nas costas com aquela frase: "boa sorte".

Saí tranquila. Calmaria. Joguei as mãos para cima. Eu tinha deixado um passado pra trás. Um passado que eu tentava habitar e que não era meu. Que raios eu fazia nessa profissão?

Mudei tudo. O modo de vestir, colei milhões de gravuras na parede do meu quarto, abusei da pimenta na comida e procurei trabalho naquilo que gostava: a Arte!
Consegui. Consegui não apenas o trabalho. Consegui a liberdade. Interna e externa.

Outro dia recebi um telefonema. Era um estagiário! "Mas como você dava conta deste trabalho? Não estou conseguindo!".
É, Sr. Ruanda passou meu serviço para um estagiário. A mão de obra ficou cara demais.
Soube que perdeu clientes. E casou para manter a pose, mas tudo não passa de uma farsa.
Deve ser triste o Sr. Ruanda....

Recebi alguns emails de insulto por ter saído sem avisá-lo! E ainda, algumas outras baboseiras.Ele queria que eu retornasse para causar uma briga. E ele, claro, com seu vocabulário robusto, me colocaria no rodapé. Mas não fiz isso.
Coloquei o email na pasta AMIGOS. Não lhe quero mal.
Torço para que ele se encontre um dia. Ou se perca, quem sabe? O que for melhor...

Ah... Sr. Ruanda, você comprovou a eficácia de 3 frases:

* No fundo do poço tem mola
* É com um pé na bunda que se anda pra frente
* Passarinho que come pedra sabe o c* que tem....

Obrigada, Sr. Ruanda!!!!

TRAVESSIA..........................................


6 de nov. de 2012

Você trabalha com cultura?



Já ouvi muita bobagem por aí neste ano. E pelo visto, vou passar 2013 ouvindo mais...

Quando joguei a advocacia para o alto para trabalhar com cultura, não tomei uma decisão precipitada. Foram anos pensando, repensando e aperfeiçoando. 

Hoje, ouço frases do tipo: 

- Você trabalha com cultura? Está treinando para palhaça?

- Tira esse nariz de palhaço #ficaadica

- Quer passar fome? 

- E o concurso público, onde fica?

Realmente, a ignorância e mediocridade humanas me espantam (ainda). 
Não entendo o preconceito com os palhaços. 
Hoje fiz um curso com o pessoal CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura). A sala estava repleta de personalidades que muitos fazedores de cultura gostariam de conhecer. 
Inclusive, ouvi o relato de 3 palhaços que lutam com as Leis de Incentivo, pois não conseguem captar recursos. E vivem com a renda de ingressos, que muitas vezes são escassos. 
Por outro lado, o Cique de Soleil... melhor nem falar ou o infarto poderá ser certo... 

Não estou treinando para palhaça. Embora admire muito a profissão, minha área está para gestão. Mas não dispenso um bom circo. Acho linda esta arte milenar que se perde entre os dedos dos nossos governantes. Não há mais espaço para receber as tendas. BH e sua política higienista, por exemplo, massacra os circos e artistas de rua. 

Eu trabalho SIM com cultura. NÃO passo fome. NÃO sofro de depressão. NÃO fico sem ter o que fazer aos fins de semana. Transformo MEUS projetos em pequenos prazeres. Conheço pessoas INTERESSANTES. Sempre tenho ASSUNTO com os amigos. Tenhos AMIGOS. Consigo extravasar em um MUSEU. Viajo PARA visitar museus. Sempre tenho um BOM livro na cabeceira. Ministro palestras E cursos. 

Enfim, se meu nariz de palhaço me dá isso tudo, imagino o quanto um nariz faz falta na sua vida!!!

#FICAADICA




5 de nov. de 2012
CULTURA! HÃ?!

Hoje é dia nacional da CULTURA BRASILEIRA

E eu poderia tecer milhões de letrinhas para vangloriar nossas lindas manifestações culturais nacionais, nossos hábitos culturais que se renovam, se esgotam ou até mesmo se deterioram... 

Mas eu prefiro pedir a você, caro leitor, que faça um minuto de silêncio. 

Porque, neste dia tão especial, eu recebo uma notícia tão triste...

 TV Globo busca R$ 143 milhões em patrocínios para BBB 13, que tem estreia prevista para o dia 8 de janeiro.

É ou não é de massacrar na jugular??? 



E depois recebo a notícia que de CINQUENTA TONS DE CINZA está no topo da lista dos livros mais vendidos... 


Caio, me ensine a cortar cebolas! Meu canal lacrimal secou!!